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Por que as plantas melam na partida?

A perda das plantas na partida do aquário plantado é uma das coisas mais frustrantes e representa grande parte da dificuldade do hobby. As plantas são caras e a perda em aquários grandes pode alcançar uma pequena fortuna. Além disso, a morte das plantas atrasa muito o desenvolvimento do sistema, aumenta o trabalho de manutenção e traz vários problemas com algas que podem se tornar persistentes. De certa forma, quanto mais tempo se demora para conseguir plantas crescendo, mais os problemas se agravam e ficam difíceis de reverter, pois as algas passam a dominar as condições.

Por que as plantas aquaticas melam na partida? A perda das plantas na partida do aquário plantado é uma das coisas mais frustrantes e representa grande parte da dificuldade do hobby. As plantas são caras e a perda em aquários grandes pode alcançar uma pequena fortuna. Além disso, a morte das plantas atrasa muito o desenvolvimento do sistema, aumenta o trabalho de manutenção e traz vários problemas com algas que podem se tornar persistentes. De certa forma, quanto mais tempo se demora para conseguir plantas crescendo, mais os problemas se agravam e ficam difíceis de reverter, pois as algas passam a dominar as condições.

O problema das plantas melando nas partidas é uma questão antiga no hobby e muitas hipóteses já foram levantadas para explicá-lo, mas nenhuma delas foi satisfatória a ponto de descobrirmos maneiras de resolver ou suprimir o efeito. Já ouvi falar de tudo: da falta de cálcio que enfraquece os caules de maneira a permitir a entrada de patógenos, da acidez dos substratos ou de uma grande concentração inicial de nutrientes que “queima” as plantas, o que se resolveria apenas com o tempo na medida em que os substratos estratificam suas camadas e se estabilizam quimicamente, etc. O meu palpite sempre foi a configuração celular das plantas emersas, principalmente na quantidade de mitocôndrias, já que crescem emersas, mesmo quando se desenvolvem in vitro. As mitocôndrias são compartimentos celulares onde se faz a respiração, ou seja, onde o oxigênio é empregado para gerar energia queimando açúcares. Minha aposta era que plantas emersas teriam mitocôndria em maior quantidade, o que teoricamente demandaria uma grande demanda por oxigênio, sobretudo, nas raízes, de forma que quando as plantas são submetidas às condições da vida imersa elas sofressem uma espécie de asfixia. A recomendação geral era, portanto, remover as raízes e plantar somente os caules, de forma que as plantas pudessem produzir raízes adaptadas mais tarde.

Por que as plantas aquaticas melam na partida? A perda das plantas na partida do aquário plantado é uma das coisas mais frustrantes e representa grande parte da dificuldade do hobby. As plantas são caras e a perda em aquários grandes pode alcançar uma pequena fortuna. Além disso, a morte das plantas atrasa muito o desenvolvimento do sistema, aumenta o trabalho de manutenção e traz vários problemas com algas que podem se tornar persistentes. De certa forma, quanto mais tempo se demora para conseguir plantas crescendo, mais os problemas se agravam e ficam difíceis de reverter, pois as algas passam a dominar as condições.

Recentemente tenho estudado mais sobre alguns processos oxidativos prejudiciais nas plantas quando cumulativos, mais especificamente os ROS (reactive oxygen species), que apontam para a produção de um certo hormônio chamado etileno. O etileno é, basicamente, o hormônio do estresse na fisiologia vegetal, similar ao cortisol para os animais, que sinaliza estresses ambientais e prepara as plantas para determinadas respostas adaptativas. Contudo, o etileno também é um grande problema quando se acumula demais, pois ele dispara a senescência (morte programada) de vários órgãos das plantas como forma de economia de energia e nutrientes e também aumenta a produção do ácido abscísico, que, por sua vez, aumenta a sensibilidade ao etileno num feedback positivo. Isso pode levar ao derretimento descontrolado das plantas em casos de estresse extremo como excesso de calor, salinidade muito alta e carência severa de vários nutrientes, em especial o nitrogênio e o fósforo. Como se não fosse ruim o bastante, o etileno pode se mobilizar das plantas prejudicadas e se espalhar para as plantas ao redor, disparando o mesmo efeito mesmo em plantas não submetidas ao mesmo estresse. O velho ditado que diz “uma única laranja podre apodrece o restante” é muito verdadeiro e se refere diretamente ao efeito dispersivo e disruptivo do etileno. Sendo assim, em qualquer situação em que houver plantas “melando”, é altamente recomendado removê-la antes que acionem o derretimento das plantas vizinhas.

Nas partidas, o etileno também está presente, só que de uma forma mais brutal e central, porque ele está diretamente envolvido na transformação das plantas emersas para a vida imersa, a hidrofitização. O processo da hidrofitização causa mudanças muito drásticas e radicais nas plantas palustres como redução da espessura da cutícula e das folhas para melhorar a permeabilidade dos gases e da água, redução da quantidade dos estômatos (orifícios sub foliares por onde há trânsito de água e gases), alteração da morfologia das folhas, muitas vezes produzindo recortes para diminuir a resistência hidrodinâmica na correnteza e, o mais dramático de todos, a formação dos aerênquimas, que são lacunas vazias para facilitar a difusão do oxigênio dentro da planta para as raízes.

Nos meus estudos sobre os ROS nesse contexto, descobri que são produzidos também em condições de hipóxia, quando a presença do oxigênio é muito escassa, e essa situação é típica das plantas que precisam se adaptar ao encharcamento do terreno ou cheias de rios. O que acontece é basicamente o seguinte: quando as plantas na forma emersa são inundadas, o sufocamento das raízes produz muitos radicais livres que, por sua vez, ativará a produção de etileno. O etileno é importante nesse contexto porque é ele efetivamente quem sinaliza para a planta que é hora de começar a transformação. A necessidade mais urgente e crítica para as plantas nesse processo é o oxigênio até para garantir a alta demanda energética para sustentar todas essas transformações. A formação dos aerênquimas é transformação mais urgente e é iniciada dentro de algumas horas.

A formação dos aerênquimas é um processo bem interessante: há dois tipos deles, o aerênquima esquizógeno e o lisígeno. O primeiro é formado abrindo-se um espaço entre as células degradando as ligas de pectina. Esse tipo de aerênquima é produzido pelas plantas terrestres comuns quando são eventualmente inundadas, um tipo de aerênquima “provisório”. Nas plantas palustres ocorre a formação do aerênquima lisígeno, que é feito pela indução da morte de células programadas pelo etileno, abrindo, dessa forma, os espaços necessários. Esse processo é mais intenso nas raízes, mas também pode ocorrer nos caules e folhas. O grande problema é quando a produção do etileno não é bem controlada e não somente as células programadas, mas também as células ao redor são destruídas, o que resulta na perda das plantas nas partidas eventualmente espalhando o efeito para as plantas vizinhas.

É interessante notar como as plantas sacrificam boa parte da área vascular do floema e do xilema, provavelmente diminuindo a troca de nutrientes e açúcares entre as partes superiores e raízes, em troca de maior fluxo de oxigênio para as raízes. Talvez as plantas consigam grande parte da absorção dos nutrientes dissolvidos pelas folhas com derme mais fina e permeável, de forma que as raízes, ao perder boa parte da sua função no transporte de nutrientes do substrato, sirvam mais como âncoras.

Figura 1 – Comparação das formas emersa (a) e imersa (b) da Hygrophila corymbosa (Blume) Lindau em vista de seção axial. 1- derme; 2- parênquima; 3- floema; 4- xilema e 5- aerênquimas. Fotos a e b em 400x.

Eu não estava tão errado, afinal. A causa era mesmo a hipóxia, mas não relacionada às mitocôndrias, mas sim à produção de um hormônio que ativa a morte de células. A questão é controlar a sua produção para não destruir a planta inteira.

Ainda não temos produtos capazes de controlar a atividade do etileno na transformação das plantas nas partidas dos aquários, mas é bem conhecido na botânica o fato das citocininas modularem negativamente a sua produção por meio da repressão da expressão de certos genes. Inclusive o ácido salicílico, outro hormônio vegetal (embora não seja uma citocinina), por estar envolvido em certos mecanismos de defesa das plantas, talvez também possa ajudar no controle da produção de ROS e controlar a produção do etileno. O desafio de criar produtos com esses agentes é grande, pois é difícil encontrar doses seguras e efetivas dentro de uma variedade vasta de opções que podem provocar respostas distintas nas plantas. Mas enquanto os fabricantes não nos trazem soluções nesse sentido, podemos empregar o conhecimento para selecionar estratégias melhores para as partidas. Vou sugerir algumas:

Figura 2 – Plantas recém plantadas derretendo em partida de aquário.

Primeiro, a escolha das plantas é muito importante. Há basicamente três formas de cultivo de plantas aquáticas: em hidroponia, in vitro e canteiros alagados. As plantas mais resistentes à hidrofitização são as do cultivo alagado porque já estão submetidas, pelo menos parcialmente, à hipóxia do substrato ao mesmo tempo que sustentam pleno desenvolvimento acima da superfície. Os caules dessas plantas, mesmo parcialmente emersos, já tem aerênquimas e, portanto, devem se estressar menos com a imersão total. Embora sejam boas escolhas, as plantas de cultivo alagado não são muito comuns no grande mercado aquarista porque a produção costuma ter um volume menor e o controle de pragas, principalmente de caramujos e algas, não é muito eficiente. Em segundo lugar, as plantas mais tolerantes à imersão são as in vitro, talvez por terem as raízes imersas em gel ou por ainda estarem em estágio inicial de desenvolvimento. As plantas de hidroponia, por sua vez, são as mais sensíveis, pois as raízes, apesar de imersas, estão em água corrente com oxigênio abundante e os caules estão totalmente emersos sem nenhuma presença de aerênquimas nos caules. A transformação para essas plantas será mais estressante e radical, embora tenham a vantagem de terem mais volume para plantio.

Figura 3 – Plantas em cultivo alagado são as mais resistentes ao processo de adaptação à imersão total.

Manter as plantas nos vasos, sem plantar no substrato, no caso de plantas vindas de hidroponia, e aguardar sua transformação para plantar suas podas é uma boa ideia. Como não há a necessidade de cortar as raízes, as plantas terão tempo e maior oferta de oxigênio na coluna d’água para sustentar a transformação. Eu recomendo esse método para os iniciantes ou quando se traz plantas mais sensíveis para o aquário. Uma variante desse método é cortar as raízes, remover as plantas dos vasos e deixá-las flutuando no aquário até conseguirem terminar a transformação. A superfície da água é muito mais rica em oxigênio e pode diminuir a produção de etileno pelas plantas. Esse método é muito bom inclusive para plantas in vitro e plantas de rizoma/bulbos, como Bucephalandras e Cryptocorynes.

Outra estratégia é eliminar todas as folhas do caule, já que serão todas descartadas, e manter somente as folhas das ponteiras. Isso não diminui a produção do etileno, mas evita que o apodrecimento das folhas descartadas o difunda para as plantas vizinhas. Plantar um pouco mais distante um caule do outro também é válido. Os espaços podem ser preenchidos mais tarde com as próprias podas já adaptadas. Vale ressaltar que as folhas da parte do caule que será plantada precisam ser destacadas, pois a decomposição delas causará um consumo inconveniente de oxigênio onde a planta mais precisará para a formação das raízes. Limpar as plantas dessa maneira, uma a uma, parece um trabalho desnecessário, mas acredite, fará muita diferença na resposta adaptativa das plantas.

Preferir substratos de granulometria maior também é muito útil, pois permite a infiltração do oxigênio pelo substrato, bem como espaço para que as raízes cresçam. As menores granulometrias devem ser escolhidas para as plantas cujas raízes são minúsculas e delicadas, como é típico das plantas carpete. Aliás, se tratando de plantas carpete no método dry start, as raízes podem ser gradativamente inundadas, dia após dia, dando tempo para as plantas se ajustarem à oferta de oxigênio a nível de substrato imerso. As partes emersas serão capazes de prover oxigenação para toda a planta e tornar a transformação menos estressante.

E, por fim, uma ideia que ainda precisa ser testada, mas faz muito sentido, é partir o aquário sem CO2 nos primeiros dez ou quinze dias ofertando bastante aeração e um pouco menos de luz. As plantas teoricamente estão passando por um momento tão estressante que é bem possível que ainda não estejam assimilando CO2 com suas folhas em estado emerso inadequadas às condições imersas. A aeração daria suporte para a transformação e ajudaria a diminuir a hipóxia dos tecidos, prevenindo o excesso da produção do etileno. O pH mais alto, por sua vez, talvez aliado a um pouco de alcalinidade, também pode cumprir uma função de alta relevância no controle do etileno. O etileno, em si, não se ioniza conforme o pH, mas muda sua interação com outros hormônios, pelos quais, conforme já vimos, ele pode ser modulado. O ácido abscísico e as auxinas, por exemplo (sinérgicos com o etileno), são mais ativos em pH mais ácido, enquanto que as citocininas (antagonistas) funcionam melhor em pH levemente mais alcalino. Eu mesmo nunca testei esse método porque é uma ideia bem nova que me veio à mente enquanto estudava o assunto, mas pretendo empregá-la nos meus futuros aquários. O CO2 pode ser fornecido assim que as plantas começarem a modificar as folhas do broto, o mesmo sinal que pode dar início à fertilização.

É importante destacar que as plantas VÃO descartar as folhas emersas. Isso não pode ser evitado, pois são órgãos inúteis ou inapropriados para a vida imersa. O objetivo dessas condutas é impedir a morte das plantas ou, quando ainda houver, impedir que o problema se alastre pelo aquário a amplie o prejuízo. O descarte das folhas é um processo natural e o aquário precisa se manter livre dessa decomposição. O problema do excesso do etileno é quando o apodrecimento acomete os caules ou os brotos de forma que não é possível insistir na recuperação das plantas. Portanto, aqui fica mais uma dica: não insista em plantas que derretem caules e brotos. Elimine-as o quanto antes para que não acometam outras plantas. Não há esperança quando chegam nesse estágio, não tentem “desfritar” o ovo.

Descobrir uma maneira eficiente para diminuir a perda das plantas nas partidas é algo urgente no nosso hobby. Isso representaria uma grande economia para os aquaristas que poderiam investir com mais confiança em mais plantas, o que é muito importante para a construção do metabolismo do sistema. Acredito que com esse artigo eu tenha dado minha contribuição para a solução parcial desse problema. Talvez ele seja mesmo insolúvel e seja parte do hobby para sempre, como uma fase inconveniente que todos terão que passar com suas partidas. Se esse for o caso, suas causas precisam também ser documentadas para que as pessoas entendam que essa dificuldade não depende muito da habilidade individual (já vi aquaristas muito experientes jogando baldes de plantas no lixo), mas é um comportamento natural das plantas. Essa fase é como remar contra as ondas numa praia; é difícil sair da zona de rebentação, mas assim que a superamos, alcançamos o mar aberto onde as coisas são muito mais fáceis (pelo menos os problemas são outros). Enquanto os fabricantes não encontram uma forma de acalmar as marés, então cabe a nós descobrirmos uma maneira inteligente de atravessá-las para aumentar as chances de sucesso nesse maravilhoso, porém por vezes difícil hobby.

Meu agradecimento especial ao Marcelo Meratti por me orientar como fazer os cortes super finos e precisos nos caules das plantas para levá-las ao microscópio.